A mamona, defendida pelo governo como alternativa ideal para a inserção da agricultura familiar na cadeia de produção de biodiesel, ainda é descartada pela maioria absoluta das fabricantes do combustível. Em pesquisa apresentada ontem no Congresso Brasileiro de Agribusiness, da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), simplesmente nenhuma empresa declarou utilizar a matéria-prima.
“Sobre a mamona, existem duas certezas: que ela não serve como alimento e que não serve para o biodiesel”, disse Marcello Brito, diretor comercial da Agropalma. “Ela pode se tornar uma boa alternativa no futuro, mas, no momento, não é. O governo é que tem insistido”.
O estudo foi elaborado pela própria Agropalma como tentativa de fazer um retrato das ações de sustentabilidade no mercado de biodiesel, sobre as quais há poucas informações disponíveis, segundo Brito. O estudo acabou limitado pelo receio das companhias em revelar dados sobre suas operações. “Todos querem dados sobre o mercado, mas ninguém se dispõe a fornecê-los. Todo mundo quer ir para o céu, mas ninguém quer morrer”, diz o diretor.
Das cerca de 40 empresas em operação no país, 18 dispuseram se a participar, mas foram 11 as que enviaram suas respostas. Ainda que tenha sido um levantamento “por amostragem”, diz ele, essas companhias foram responsáveis, respectivamente, por 47% e 32% do volume arrematado nos dois últimos leilões realizados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Soja e sebo animal, isoladamente ou consorciadas, representaram 73% da matéria-prima utilizada pelas fabricantes entrevistadas — no mercado, estima-se que, sozinha, a soja responda por 90% da base de produção de biodiesel. “Fala-se do biodiesel como uma oportunidade de inclusão da agricultura familiar, mas quem na agricultura familiar produz soja ou sebo?”, diz Brito. A Agropalma fabrica biodiesel a partir da palma, mas as vendas do combustível representam apenas 2% do faturamento da companhia, que foi de R$ 395 milhões em 2007.
A mamona não foi excluída do mercado, mas sua baixa produtividade e produção concentrada na agricultura de pequena escala afastam as indústrias. A ANP considera a viscosidade da oleaginosa imprópria para a produção do combustível sem a adição do óleo de outras matérias-primas.
Entre as empresas entrevistadas na pesquisa, 22% têm faturamento de até R$ 25 milhões. As de faturamento entre R$ 100 milhões e R$ 250 milhões representam 33% da amostra, e as de receita anual superior a R$ 500 milhões são 45% do total.
Em ações de apuração da sustentabilidade das empresas, 55% informaram não ter estudos documentados sobre impacto das atividades sobre a água, o solo e as populações locais e 64% não dispõem de informações desses impactos sobre o solo ou a fauna.
Patrick Cruz, de São Paulo